"O menor entre todos os gatos é uma obra prima"
( Leonardo da Vinci )
"Duas coisas são esteticamente perfeitas no mundo: relógios e gatos"
( Emile Auguste Chartier )
( Emile Auguste Chartier )
"Respeitar o gato é o começo do senso estético."
(Erasmus Darwin )
Ode ao Gato
(Pablo Neruda)
Os animais foram
imperfeitos,
compridos de rabo,
tristes de cabeça.
Pouco a pouco
se foram compondo,
fazendo-se paisagem,
adquirindo pintas, graça, vôo.
O gato, só o gato
apareceu completo
e orgulhoso:
nasceu completamente terminado,
anda sozinho e sabe o que quer.
O homem quer ser peixe e pássaro,
a serpente quisera ter asas,
o cachorro é um leão desorientado,
o engenheiro quer ser poeta,
a mosca estuda para andorinha,
o poeta trata de imitar a mosca,
mas o gato quer ser só gato
e todo gato é gato
do bigode ao rabo,
do pressentimento ao rato vivo,
da noite até seus olhos de ouro.
Não há unidade como ele,
não tem a lua
nem a flor
tal contextura: é uma só coisa
como o sol ou o topázio,
e a elástica linha
em seu contorno firme e sutil
é como a linha
da proa de um navio.
Seus olhos amarelos
deixaram uma só ranhura
para jogar as moedas da noite.
Oh pequeno imperador sem orbe,
conquistador sem pátria,
mínimo tigre de salão,
nupcial sultão do céu das telhas eróticas,
o vento do amor na intempérie
reclamas quando passa
se pousas quatro pés delicados no solo,
cheirando, desconfiando de todo o terrestre,
porque tudo
é imundo
para o imaculado pé do gato.
Oh fera independente da casa,
arrogante vestígio da noite,
preguiçoso, ginástico e alheio,
profundíssimo gato,
polícia secreta dos quartos,
insígnia de um
desaparecido veludo,
seguramente não há enigma
na tua maneira,
talvez não sejas mistério,
todo o mundo sabe de ti
e pertences ao habitante
menos misterioso,
talvez todos o acreditem,
todos se acreditem donos,
proprietários, tios de gatos,
companheiros, colegas,
discípulos ou amigos do seu gato.
Eu não. Eu não subscrevo.
Eu não conheço ao gato.
Tudo sei, a vida e seu arquipélago,
o mar e a cidade incalculável,
a botânica, o gineceu com seus extravios,
o pôr e o menos da matemática,
os funis vulcânicos do mundo,
a casaca irreal do crocodilo,
a bondade ignorada do bombeiro,
o atavismo azul do sacerdote,
mas não posso decifrar um gato.
Minha razão resvalou na sua indiferença,
o seu olho tem números de puro.
***
(Pablo Neruda)
Os animais foram
imperfeitos,
compridos de rabo,
tristes de cabeça.
Pouco a pouco
se foram compondo,
fazendo-se paisagem,
adquirindo pintas, graça, vôo.
O gato, só o gato
apareceu completo
e orgulhoso:
nasceu completamente terminado,
anda sozinho e sabe o que quer.
O homem quer ser peixe e pássaro,
a serpente quisera ter asas,
o cachorro é um leão desorientado,
o engenheiro quer ser poeta,
a mosca estuda para andorinha,
o poeta trata de imitar a mosca,
mas o gato quer ser só gato
e todo gato é gato
do bigode ao rabo,
do pressentimento ao rato vivo,
da noite até seus olhos de ouro.
Não há unidade como ele,
não tem a lua
nem a flor
tal contextura: é uma só coisa
como o sol ou o topázio,
e a elástica linha
em seu contorno firme e sutil
é como a linha
da proa de um navio.
Seus olhos amarelos
deixaram uma só ranhura
para jogar as moedas da noite.
Oh pequeno imperador sem orbe,
conquistador sem pátria,
mínimo tigre de salão,
nupcial sultão do céu das telhas eróticas,
o vento do amor na intempérie
reclamas quando passa
se pousas quatro pés delicados no solo,
cheirando, desconfiando de todo o terrestre,
porque tudo
é imundo
para o imaculado pé do gato.
Oh fera independente da casa,
arrogante vestígio da noite,
preguiçoso, ginástico e alheio,
profundíssimo gato,
polícia secreta dos quartos,
insígnia de um
desaparecido veludo,
seguramente não há enigma
na tua maneira,
talvez não sejas mistério,
todo o mundo sabe de ti
e pertences ao habitante
menos misterioso,
talvez todos o acreditem,
todos se acreditem donos,
proprietários, tios de gatos,
companheiros, colegas,
discípulos ou amigos do seu gato.
Eu não. Eu não subscrevo.
Eu não conheço ao gato.
Tudo sei, a vida e seu arquipélago,
o mar e a cidade incalculável,
a botânica, o gineceu com seus extravios,
o pôr e o menos da matemática,
os funis vulcânicos do mundo,
a casaca irreal do crocodilo,
a bondade ignorada do bombeiro,
o atavismo azul do sacerdote,
mas não posso decifrar um gato.
Minha razão resvalou na sua indiferença,
o seu olho tem números de puro.
***
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